Border Collie

História e Características Gerais da Raça
Com essa cara de vira-lata e a fama de ser a raça de cachorro mais inteligente, o Border está começando a ficar bastante conhecido no Brasil, especialmente depois do filme “Babe, o Porquinho Atrapalhado”. Sua origem está diretamente relacionada a sua função mais importante, o pastoreio.

Embora a sua ancestralidade seja pouco conhecida, acredita-se que os exércitos Romanos trouxeram cães pastores que foram possivelmente envolvidos no desenvolvimento do Border Collie de hoje, quando invadiram a Grã Bretanha cerca de 55 antes de Cristo. Por volta do ano 794 estes cães teriam sido cruzados com um outro tipo de cão pastor, menor e com aparência do Spitz, trazidos por invasores Vikings. Deste cruzamento teriam surgido cães mais ágeis, com marcações brancas, adequados para o terreno difícil e montanhoso da Escócia.
Descrições mais detalhadas de cães pastores com um tipo muito semelhante ao Border Collie são encontradas em manuscritos do Dr. Johannes Caios, chamado “Treatise on English Dogges” de 1576.

O Boder como é conhecido hoje é originário da região entre a Escócia e a Inglaterra. As primeiras referências em literatura datam de 1570, quando eram conhecidos com diversos nomes, entre eles Collie de Trabalho, Collie de Fazenda e Collie Inglês. Em 1915 foram chamados pela primeira vez de Border Collie. A palavra Border quer dizer fronteira em inglês e Collie não é exatamente conhecida podendo ter origem na palavra celta”coalley” que significa “preto”,na palavra galesa “coelius”que significa “leal”, ou no nome de uma raça de ovelhas escocesas “coelley”.

Por ser um cachorro essencialmente de trabalho, suas características físicas sempre foram colocadas em segundo plano. A criação do Border sempre foi voltada para exemplares mais aptos ao trabalho, ou seja, os criadores preferiam acasalar os cachorros com melhor desempenho para o trabalho sem se preocupar tanto com aspectos físicos. Por conta disso muitos criadores não registram seus animais nos kennels e sim em clubes especiais para a raça, e muitos deles levam seus cachorros para participar de competições de pastoreios sem se preocupar em colocá-los em pista de competições de beleza e estrutura.

Entretanto cada vez mais o Border Collie vem sendo utilizado para outras finalidades que não o pastoreio. Hoje em dia é fácil encontrar vários deles em provas de Agility, na maioria das vezes com excelentes colocações. Nas exposições de beleza o número de Borders também aumenta todos os anos assim como os registros da raça nos kennels.

Aliás, o ingresso do Border Collie nos shows de conformação já gerou e ainda gera muitas controvérsias, especialmente nos Estados Unidos.

Em 1955 o American Kennel Club (maior entidade cinológica dos EUA) incluiu o Border Collie no grupo Miscelânea, que significa que a raça não participa dos shows de conformação, mas podem participar de competições de obediência, entre outros eventos oficiais.

Na Inglaterra eles foram reconhecidos oficialmente em 1976, apenas em 1994 a raça foi totalmente reconhecida pelo AKC, podendo então participar dos eventos de beleza e conformação Norte Americanos.

Muitos fãs da raça não gostaram da notícia, temendo que a participação da raça em shows de conformação iria lentamente afastá-la da sua função original e mais importante: o trabalho de pastoreio. Além disso, eles temiam que com a popularização da raça os BC iriam sofrer com o crescimento no número de criadores e com os cruzamentos indiscriminados, resultando na perda de qualidade da saúde física e do temperamento destes animais.

Tamanho:
Pelos padrões da FCI (Federação Cinológica Internacional) os machos devem ter 53cm na cernelha e fêmeas ligeiramente menores, sendo que o peso ideal não é citado. Pelos padrões do AKC (American Kennel Club) a altura ideal é entre 45,7 cm e 56 cm na cernelha, com peso ideal entre 14 kg e 20,4 kg, podendo variar entre 11,3 kg e 25 kg

Aparência:
O cão deve ter silhueta suave, bem proporcionada, com graça e equilíbrio, combinado com substância suficiente para conferir uma impressão de resistência. Existe uma grande diferença entre a aparência geral dos BC de exposição e os de trabalho. Os cães de exposição possuem uma postura ereta típica, com a cabeça carregada alta e uma aparência “quadrada”. Os cães de trabalho, por sua vez, carregam a cabeça baixa, perto do chão, a traseira é mantida alta e o rabo entre as pernas, dando a impressão de estar (e está mesmo) pronto para mudar de direção a qualquer momento.

Pelagem e Cor:
Nos shows de conformação são aceitas duas variedades de pelagem, moderadamente longa e lisa. Em ambas deve ser densa e de textura média com subpêlo macio e denso fornecendo boa proteção contra variações climáticas. Na variedade moderadamente longa a abundância de pêlos forma uma juba e culotes. Qualquer variedade de cores é permitida, o branco jamais deve ser predominante.

Cabeça:
Crânio razoavelmente largo, occipital não pronunciado. Sem bochechas cheias ou arredondadas. Focinho afinado para a trufa, moderadamente curto e robusto. Crânio e focinho aproximadamente do mesmo comprimento. Stop bem marcado. Trufa preta exceto para os exemplares de cor marrom ou chocolate (pode ser marrom) e nos azuis (trufa cor de ardósia). Olhos devem ser bem separados de formato oval e tamanho médio de cor marrom, exceto nos exemplares merle quando um ou ambos os olhos podem ser azuis. Expressão esperta, suave, alerta e inteligente. As orelhas têm tamanho médio, inseridas bem separadas. Portadas eretas ou semi-eretas e de audição muito sensível. Boca com maxilares e dentes fortes, com mordedura tesoura perfeita, regular e completa (não é permitida a falta de dentes).

Cauda:
Moderadamente longa, alcançando, no mínimo, o nível dos jarretes. De inserção baixa, bem peluda e com a ponta voltada para cima, conferindo um gracioso contorno e equilíbrio ao cão.

Expectativa de vida:
De 12 a 15 anos.
O Border Collie costuma ser um cão bastante saudável, as doenças mais comuns a raça são a distrofia de retina (RPED – Retinal Pigment Epitelial Distrophy), uma doença hereditária que ocorre devido ao deposito de melanina e pode aparecer depois dos três anos e também são sujeitos a CEA (Anomalia do Olho do Collie) um descolamento da retina, que aparece bem cedo e resulta em sangramentos e cegueira. Alem disso estão sujeitos a displasia coxofemoral (anomalia no encaixe do fêmur e da bacia) e displasia de cotovelo.

Existe ainda uma doença, especialmente nos Borders de linhagem Australiana, que provoca o depósito de resíduos de produtos no cérebro do cão, durante a infância, causando deficiências físicas e mentais, inclusive levando a ataques de fúria.

Um outro detalhe importante com relação a saúde da raça é que eles, como os collies, não podem receber uma droga bastante conhecida e utilizada para prevenção da Dilofilariose (verme do coração) a INVERMECTINA.

Não precisam de banhos muito freqüentes, um banho por mês e escovações diárias costumam ser o suficiente para mante-los sempre limpos e sem cheiro

Perfil da Raça
Você é ou pretende ser dono de um Borde Collie? Muito cuidado! A “raça mais inteligente do mundo” não é pra qualquer dono! Toda essa inteligência pode ser usada contra você!

Pense num carro de Fórmula 1. Todo mundo que adora carros sonha em poder “dirigir” um carro destes, mas a despeito de toda a tecnologia, potência, velocidade e precisão (ou justamente por causa destas qualidades), quantos são realmente capazes de pilotar e controlar um carro destes? Esse cachorro encantador é de fato muito inteligente, aprende com rapidez tudo que seu dono ensina e também tudo que ele não ensina!

O Border é ótimo para aprender apenas observando o dono, assim são experts em abrir portas, apagar luzes, podar plantas (a sua moda, claro!) tudo somente observando seu dono. Com donos “novatos” o Border pode se tornar facilmente manipulativo e teimoso.

Costumam ser bem mais precoces que outros cães, com apenas 3 ou 4 meses um border bem motivado já pode obedecer ordens como senta, deita, junto, pare e venha. Além disso, são ótimos em compreender situações e tentar resolvê-las. São cachorros que estão o tempo todo procurando algum problema para resolver, ou algum trabalho para executar.

Juntando toda essa energia, capacidade de aprender e vontade de trabalhar, o Border acabou tornando-se uma das melhores raças para Agility. Sua estrutura ágil e seu corpo um pouco mais comprido que alto reúne as características mais desejadas para este esporte.

Além de obediente, ativo e ágil, o Border também é muito resistente. Isso explica porque é um pastor de ovelhas tão eficiente. A forma que o Border encontra para conduzir suas ovelhas é usando seu olhar firme para intimidar as ovelhas diferente da maioria dos cães pastores que dão pequenas mordidas no calcanhar, apesar disso, costumam “pastorear” crianças ou mesmo adultos com mordidinhas nas pernas e calcanhares.
Em outras palavras, se não forem muito bem treinados, transformam-se facilmente em verdadeiras pestes.

Agora vamos ao que interessa: como se comporta um Border em um apartamento ou em uma casa na cidade? Na grande maioria das vezes tornam-se cachorros de difícil convivência, porque não param nunca, estão sempre querendo que seus donos arrumem algum trabalho para realizarem, que pode ser jogar bolinha, brincar de pegar pelo jardim ou brincar com a luz de uma canetinha de lazer à noite. Adoram pastorear outros cães, passarinhos, pombas, coelhos e até crianças. O problema da raça é que não basta gastar 1 hora por dia jogando bolinha ou exercitando-o. Este cão está preparado para trabalhar 18 horas por dia sem parar. Pouco exercitados e sem um trabalho pra fazer eles se tornam destrutivos, hiperativos e até neuróticos. Eles podem acabar com os nervos de qualquer um com seu comportamento obsessivo. Se você pensa em ter um cachorro quietinho, ou que brinque sozinho, esqueça o Border Collie, ele precisa de estímulo mental e interação com seu dono. Se deixados sem estímulos eles podem desenvolver comportamento compulsivo como perseguir a própria sombra, correr atrás de reflexos, perseguir biciletas, motos, skates, etc.

Se por um lado estes cães precisam de muito exercício físico, é preciso estar sempre atento e tomar cuidado para que seu amigo não fique exausto. Não é raro que os BC ignorem sinais de cansaço e continuem “trabalhando” muito além do que deveriam. É importante faze-los parar, especialmente em dias quentes e abafados. Quando estão interessados em alguma coisa ou envolvidos num “trabalho”, ficam quase totalmente alheios ao mundo a sua volta a menos que sejam bem treinados para obedecer seu dono.

No convívio com outros cães o BC também é um capítulo a parte. Normalmente eles vivem muito bem com os cães da família, mas com cães estranhos eles são dominantes e territoriais. Isso não quer dizer que eles são excessivamente agressivos, e que saem atacando cachorros pelas ruas, mas se um cão se aproxima muito do que um BC considera seu território, ou mesmo de seu dono, ele irá mostrar os dentes e deixará claro que não quer esta aproximação. Socialização é muito importante para quem quer passear com o seu Border Collie pelas ruas.

Com os donos eles são carinhosos e devotados. No entanto duas observações precisam ser feitas. A primeira (e nunca é demais reforçar), é que pelo fato de ser inteligente, não quer dizer que o BC seja automaticamente obediente, nem que possa ser deixado sem treinamento. A segunda é que devido a sua alta sensibilidade é preciso ter cuidado em não forçar demais o filhote, nem ser bruto ou muito ríspido com ele. É comum que os filhotes de BC demorem um pouco mais do que as outras raças para se ligarem aos seus donos. No entanto se o dono for carinho e paciente com este filhote, existe um momento mágico quando a ligação entre dono e cão se faz e é para sempre.

Outra característica bastante típica da raça é sua alta sensibilidade a sons. Facilmente treinado para reconhecer diferenças sutis de comandos através de assobios e chamados, o Border fica susceptível a desenvolver fobias com barulhos de fogos de artifício e trovão. Mais uma vez a socialização é importante em função desta sua ultra-sensibilidade a sons, movimentos e tudo o que os cerca. Devido a esta sensibilidade eles podem ficar bastante estressados em situações que consideram ameaçadoras, ou tensas, reagindo desde forma tímida até de forma agressiva. Sendo socializado e treinado para obediência fica muito mais fácil para ele se concentrar e se controlar.

Em canis e hospedagens é preciso cuidado redobrado, pois são reis em escapadas. Saltam muros sem o menor esforço, escalam grades, aprendem a abrir fechos e maçanetas.

Se por um lado o Border Collie é muito inteligente, por outro treiná-lo pode ser um desafio para aqueles que não atentos a sensibilidade natural da raça. Usar de força bruta e métodos duros com um border Collie pode torná-lo simplesmente distante e desinteressado. É muito fácil deixa-los “magoados”. É preciso ser constante, metódico e usar de técnicas motivacionais para se conseguir um resultado a altura deste cão. Alguns se dão super bem com criança, enquanto outros nunca ficam muito a vontade com movimentos e voz típicos de criança.

No livro The Intelligence of Dogs de Stanley Coren o Border Collie ocupa a 1ª posição entre as raças mais inteligentes. Ainda segundo o autor, isto significa que eles estão entre as raças mais brilhantes em termos de obediência e também na execução de tarefas de trabalho. A maioria dos cães destas raças já demonstram sinais de compreensão de comandos simples após apenas 5 repetições e não precisam de muita prática para manter estes comandos. Quando os donos pedem para eles executarem alguma tarefa, eles obedecem logo da primeira vez em cerca de 95% dos casos, e, além disso, eles costumam responder a estes comandos apenas alguns segundos depois de solicitado, mesmo que o dono esteja longe fisicamente.

© LordCão Treinamento de Cães 2009