Collie

História e Características Gerais da Raça
“Mamãe, olha a Lassie!”

Talvez as crianças de hoje já não associem imediatamente um Collie com a Lassie, mas 20 anos atrás isso era diferente.

Quem não viu, não vibrou e não chorou com as aventuras de Lassie? Lassie era o exemplo clássico do cachorro ideal. O cachorro que toda família queria ter, que toda criança sonhava. Toda semana ela salvava pessoas, protegia os mais fracos, buscava ajuda, saltava distâncias inimagináveis, não falhava nunca. Ela era uma cachorrinha linda e inteligente. Era única!
Bem, quase única. Na verdade Lassie não era UM Collie, eram vários. Ah! E os “Lassies” eram machos e não fêmeas como no filme. Não que as fêmeas sejam menos inteligentes e obedientes que os machos. A única razão para que Lassie fosse macho é que as fêmeas possuem um pêlo menos exuberante, e Lassie tinha que ser o máximo!

Mas como foi que este cachorro maravilhoso surgiu e invadiu as nossas casas?

Quase que por ironia, os Collies começaram as suas vidas com cães solitários, apreciados apenas por fazendeiros que contavam com a capacidade destes cães de trabalhar duro, cuidando dos rebanhos, principalmente de ovelhas e cabras.

A origem correta da raça não é conhecida. Alguns acreditam que eles foram trazidos para as ilhas britânicas pelos conquistadores Romanos, mais ou menos no meio do primeiro século. Outra teoria é que estes cães já estariam na região dos Highlands, Escócia, desde tempos muito mais remotos, trazidos por nômades da idade das pedras, e portanto teriam se desenvolvido nesta região como verdadeiros cães escoceses.

Sabe-se, no entanto, que os Collies originais não se pareciam com os Collies de hoje. Eles eram muito mais parecidos em cor, tamanho e tipo físico, com os Borders Collies, longe de ser o cachorro grande e peludo dos dias atuais.

O Collie permaneceu totalmente desconhecido em Londres até o ano de 1860. Naquela época os cães pastores de pêlo curto e rabo curtinho, ou sem rabo, é que eram comuns. Quem salvou este belo animal da obscuridade foi a Rainha Vitória, que numa visita a Escócia, se apaixonou pela aparência e temperamento gentil da raça. Provavelmente o primeiro Collie a participar de um show de cães foi em Birmingham, em dezembro de 1860, considerado o terceiro maior show de conformação de animais da época.

Nenhum dos cães pastores eram muito populares naqueles tempos. Eles eram apenas cães de trabalho, sem pedigrees, verdadeiros cães de fazendas. Collies de pêlo longo eram os mais usados para pastorear o rebanho nos campos. Com seu pêlo denso, eles estavam preparados para enfrentar qualquer tipo de temperatura e condição climática. Os Collies de pêlo curto, por sua vez, eram mais usados para conduzir o rebanho para os mercados das cidades, já que o trabalho exigia movimentos constantes e compassados, favorecendo o aumento da temperatura do corpo do animal, e conseqüente exaustão.

Com a transição da vida para os centros urbanos, e com as poucas fazendas de ovelhas tornando-se mais e mais mecanizadas, os cães de pastoreio foram colocados de lado e perderam suas funções. Logo os Collies de pêlo longo deixaram o duro trabalho das fazendas para se tornar um animal de estimação, bem tratado e mimado. Não demorou muito para que eles passassem a ser criados e desenvolvidos com o objetivo de manter e aprimorar suas qualidades físicas, e não mais as suas qualidades de trabalho.

Por volta de 1880 eles já eram considerados os cães da moda e passaram a ser importados também para os Estados Unidos. Lá o milionário J.P. Morgan tornou-se um grande admirador e dono de vários campeões. Em 1885 os Collies foram aceitos pelo American Kennel Club (AKC) e eram tão apreciados, que os grandes campeões custavam mais do que um homem comum poderia ganhar em 10 anos de trabalho. Foi nos EUA que estes cães ganharam ainda mais estatura e pêlos. Hoje, basicamente existem duas linhagens de Collies. A européia é um pouco menor que a americana, que é cerca de 10% maior do que a européia.. A maioria dos Collies brasileiros são descendentes dos cães americanos, ou seja, são os de maior porte.

Embora os Collies não sejam mais criados para o trabalho de pastoreio, algumas características daquele tempo foram mantidas nos cães atuais. A posição dos olhos dos Collies, por exemplo, têm um papel muito importante no trabalho de pastoreio. Os olhos postos lateralmente no crânio do cão possibilitam uma visão de 270 graus, praticamente 2 vezes a área coberta pelos cães que possuem os olhos na frente .

Se você está considerando a possibilidade de ter um Collie na sua vida, esteja preparado para alguns cuidados especiais:

» o chão deve ser áspero suficiente para o cão poder se sustentar sem dificuldade. Chão liso pode causar problemas sérios na formação das articulações do filhote.

» Esta não é uma raça apropriada para apartamento. Esteja preparado para gastar algumas horas por semana escovando o seu cachorro. É importante remover todo o pêlo morto, prevenindo nós e problemas de pele. A queda do pêlo também pode ser um problema se você sonha em ter uma casa livre de pêlos voando pelo ar. Especialmente durante o verão, eles mais parecem um “despelador” ambulante. Fêmeas costumam soltar menos pêlos do que os machos (elas possuem menos pêlos do que os machos) e no fim do verão elas parecem meio “peladinhas” demais.. Talvez seja por isso que, embora possua fama, beleza e inteligência aguçada, o Collie ainda é raro de ser visto. Raspar os pêlos no verão é um grande erro. Embora Collies não sejam “apaixonados” pelos dias escaldantes, o pêlo denso funciona como um isolante térmico. Remover os pêlos deixa o cão extremamente desconfortável.

» Quanto a saúde do seu cão, esteja alerta para possíveis problemas congênitos nos olhos e no coração; displasia coxo-femural; surdez; sensibilidade a várias drogas, inclusive remédios para a prevenção da microfilária, ou verme do coração (sempre consulte o seu veterinário antes de dar QUALQUER medicação para o seu Collie), e intoxicação por uso inadvertido de inseticidas. Para piorar ainda mais, Collies não são considerados como raças duronas. Muitos desistem de lutar contra doenças, eles simplesmente desistem e se deixam levar.

» Um outro problema é que eles possuem uma pele muito sensível, com tendências a desenvolver infecções cutâneas persistentes. Alguns possuem uma condição conhecida como “Collie Nose”, onde o nariz do cão descasca e tem rachaduras dolorosas quando exposto ao sol.

» Para tentar evitar sofrimento para o animal e para toda a família, procure comprar um filhote de criadores renomados e experientes. Pergunte sobre a saúde dos pais do seu filhote e se for possível peça para ver os exames que atestam que os pais do filhote estão livres de doenças geneticamente transmissíveis. Também não se esqueça de levar o filhotinho para um check-up no veterinário e seguir todas as suas recomendações.

» Collies são feitos para o trabalho duro e de longas horas seguidas. Para mantê-los saudáveis é preciso proporcionar uma rotina de exercícios e longas caminhadas. O pêlo muito cheio e denso dificulta a visualização de excesso de gordura, por isso esteja sempre atento. Cães acima do peso são mais propensos a desenvolver problemas de articulação quando ficam velhos.

Tamanho:
O padrão da Federação Internacional de Cinofilia (FCI) estabelece a altura para machos entre 56 e 61 cm e para fêmeas entre 51 e 56 cm (na cernelha); Já o padrão do American Kennel Club (AKC) valoriza cães maiores, com machos variando entre 61 a 66 cm e fêmeas entre 56 a 61 cm. Em nenhuma das entidades o animal será desqualificado por estar em desacordo com o padrão de altura, o cão apenas perderá pontos.

Peso:
O peso dos Collies varia em função da altura do cão, mas podem ser considerados como média os machos entre 27 e 34 quilos e fêmeas entre 23 e 29 quilos.

Aparência:
Corpo forte, ativo e com movimentos poderosos e cheios de elegância. As passadas são longas e dão a impressão de que o cachorro está flutuando.

Pelagem e Cor:
Existem dois tipos de pêlos que diferenciam o Collie. O Collie de pêlo longo possui pêlo abundante, especialmente em torno do pescoço e do peito, com subpêlo denso. O Collie de pêlo curto é mais fácil de ser mantido, pois o comprimento de seu pêlo é de apenas 2,5 cm. Ambos os tipos possuem o pêlo da cabeça e das patas mais curtos e macios. As cores permitidas pela FCI são o sable e branco (sable é uma cor marrom que vai desde o dourado claro até o marrom avermelhado intenso); o tricolor (preto com branco e castanho) e o azul merle (corpo cinza azulado, coberto de pintas pretas e algumas partes brancas). O AKC aceita além destas cores o Collie branco que pode ter algumas manchas em sable, ou azul, ou preto e castanho na cabeça.
Collies de pêlo longo e pêlo curto podem nascer em uma mesma ninhada. Em alguns países ele são exibidos como raças individuais, em outros eles são considerados variedades da mesma raça.

Cabeça:
Crânio de testa achatada, com um focinho longo e afinalado; olhos escuros de formato amendoado, afastados. Nos cães de pelagem azul merle é permitido olhos de cor azul, um de cada cor, ou castanho com uma manchinha azul; as orelhas são de tamanho médio, com 1/3 superior dobrado para a frente.

Cauda:
A cauda é longa, carregada baixa com uma leve curva ara cima.

Expectativa de vida:
de 10 a 12 anos

Observações:
Collies com fator genético azul merle não devem ser cruzados entre si, pois alguns filhotes podem nascer cegos, surdos ou estéreis. Para saber se o cão tem um fator genético azul merle não basta ver a cor de sua pelagem, é preciso conhecer seus ancestrais. O fator azul merle estará presente em todo cachorro azul merle, e em alguns cães sable e branco que possuam pelo menos um ancestral azul merle, principalmente se o cachorrinho, quando filhote, tiver tido manchas cinza azuladas nas orelhas e no rabo.

Embora muitas raças de cães pastores possam ser consideradas “primas” entre si, três delas são especialmente ligadas os Collies. Duas delas também possuem a palavra Collie em seu nome, e terceira parece um Collie em miniatura.

O Bearded Collie, ou Collie Barbudo mais parece com um Old English Sheepdog, mais magro e de pêlo mais lisinho. Segundo acreditam, eles seriam descendentes de cães da Polônia ou da Hungria. A raça é extremamente amorosa e apegada a sua família. Diferente da maioria dos cães pastores, o Bearded Collie não gosta de passear longe de casa sem os seus donos.

O Border Collie parece ter muito da sua origem ligada ao nosso Collie dos dias atuais. Esta raça é até hoje exibida em competições de trabalho de pastoreio, bem como competições de obediencia, Fly ball e Frisbee. Extremamente inteligente e obediente, ele é também protetor de sua família. É o predileto nas fazendas que ainda usam cães para cuidar de seus rebanhos.

Não se deixe enganar pela aparência. O Pastor de Shetland, ou simplesmente Sheltie, não é uma miniatura do Collie. Ele possui características próprias. Enquanto que o Collie se tornou um especialista em pastoreio de ovelhas, o Shetie sempre se manteve como um pastor para todos os tipos de rebalhos, inclusive de patos, porcos e gado também.

Perfil da Raça
O temperamento do Collie ainda encontra suas raízes fincadas nos tempos de trabalho duro para o ser humano. Collies são dóceis, prestativos, protetores e fáceis de treinar.

Os cães que trabalhavam nos terrenos inóspitos da Escócia tinham que estar preparados para agüentar o frio e os invernos terríveis. Eles tinham que ser independente, capazes de trabalhar longe dos seus donos. Tinham que ser rápidos para obedecer os comandos e capazes de resolver problemas por conta própria, pois a própria vida deles, bem como as do rebanho, dependiam de como os cães respondiam aos imprevistos e de como eles tomavam decisões. Foi justamente esta combinação de inteligência, independência e capacidade de responder rápido e de forma prestativa, as características que fizeram com que o Collie se perpetuasse, mesmo depois de várias gerações terem deixado de trabalhar com rebanhos e pastores.

Estes cães são orientados para a vida em família, sem ser do tipo “grudento”. Quando criados com crianças são carinhosos, afetuosos e gentis, até com os filhos do vizinho, mas nem todos os Collies são amigáveis com crianças se não forem expostos aos pequenos quando ainda filhotes. Por isso não assuma que qualquer Collie é confiável, especialmente com crianças pequenas.

Eles também tendem a ser reservados, mas bem educados com estranhos. Não espere que ele seja um cão de ataque, ainda que dificilmente um ladrão tenha coragem de enfrentar um cachorro deste porte, latindo sem parar. Nestes casos é sempre melhor NÃO pagar pra ver!

Collies são ao mesmo tempo inteligentes e sensíveis, o que faz com que seja um prazer treina-los. No entanto, estas características, combinadas com a natureza independente da raça, faz um Collie em mãos inexperientes se tornar num pesadelo. Ao contrário do que se pode imaginar, poucos Collies participam de competições de obediência.. Rotinas muito longas, repetitivas e aborrecidas fazem com que o cachorro não responda bem, e com que o dono desista antes de atingir os níveis desejados para competir com sucesso. Collies aprendem rápido se junto com o comando for dado um motivo para ele executarem a tarefa pedida. Eles também são rápidos em ensinar aos seus donos e treinadores que tratamento ríspido ou bruto será retribuído com resistência. No início do treinamento, quando o cachorro ainda está aprendendo os comandos, seja gentil e persistente. As correções devem ser rápidas e imediatas se o cão demonstrar sinais de que entende o comando, mas se recusa a obedecer. Collies se tornam teimosos e desmotivados a aprender se forem usadas correções exageradas, sem falar que eles são espertos o bastante para descobrir meios de evitar os exercícios.

Cheios de energia, eles precisam de bastante exercício e atenção. Eles sempre procuram uma forma de se manter ocupados. Ou você arranja algum “trabalho”, ou eles vão descobrir alguma traquinagem por conta própria. Inclua na rotina diária do cão sessões de “pegue a bolinha fugitiva”, ou “procure o biscoito assassino”, ou ainda “vamos matar o patinho de borracha” e você terá um cachorro feliz..

Como não existe raça perfeita, o Collie também tem os seus “por menores” em termos de temperamento.

Estes cães, tendem a latir excessivamente, por isso nunca encoraje o filhote a responder às brincadeiras com latidos. Se deixados livremente, numa casa que não seja cercada por muros ou grades, os Collies podem facilmente se meter em confusão, correndo atrás de carros, ciclista, motos, corredores, etc.

Muitos destes problemas são agravados, principalmente, pelo trabalho descuidado de criadores gananciosos. Alguns animais foram descritos como excessivamente tímidos. Eles mordem por medo de pessoas ou situações novas, tendem a “mordiscar” crianças, são irritadiços e parecem nunca relaxar. Alguns criadores afirmam que o Collie de pêlo curto é mais energético e agressivo que seu irmão de pêlo longo.

Uma boa pedida é inscrever o filhote logo cedo numa aulinha de socialização. Aulas de obediência e agility costumam reduzir muitos problemas como agitação excessiva , falta de autoconfiança e comportamento destrutivo.

Os machos costumam ser mais “espalhafatosos” nas suas demonstrações de alegria do que as fêmeas, que são mais reservadas. Fora isso eles são igualmente inteligentes, brilhantes e apaixonantes.

No livro The Intelligence of Dogs de Stanley Coren o Collie ocupa a 16ª posição entre as raças mais inteligentes, em termos de obediência e também na execução de tarefas de trabalho. Ainda segundo o autor, isto significa que eles são excelentes para executar tarefas de trabalho. O treinamento de simples comandos são normalmente assimilados depois de 5 a 15 repetições e serão memorizados facilmente, embora ainda possam melhorar com a prática. Eles respondem ao primeiro comando em cerca de 85% dos casos, ou mais. Em caso de comandos mais complexos é possível notar, ocasionalmente, uma pequena demora no tempo de resposta, mas que também pode ser eliminada com a prática destes comandos.

Obs.: O gráfico acima é o resultado de um estudo realizado por Benjamin L. Hart e Lynette A. Hart, veterinários e Phd’s em comportamento animal, que entrevistaram dezenas de veterinários, treinadores e juizes de competições de obediência nos EUA.

@ LordCão Treinamento de Cães 2009