Escolhendo um cão: Quais as opções para ter o companheiro que você sempre sonhou.

Todas as semanas, recebemos e-mails e telefonemas de pessoas querendo saber que raça de cachorro devem comprar. Nesta época do ano então, com Natal chegando e a criançada de férias em casa, muitos pais se vêem com duas perguntas na cabeça: queremos um cachorro? Que cachorro?

Por nossa tradição e cultura, quando a resposta à primeira pergunta é “sim”, o pensamento seguinte é: Que raça? Onde comprar?

Muitas vezes fica claro para nós que a pessoa não tem preferência por uma raça ou tipo, mas simplesmente acha que tem que escolher uma raça, já que quer um cachorro. Mais ainda, ela acha que além de escolher uma raça tem que comprar um filhote em algum lugar.

Pois é, um dos objetivos deste LordCão News é mostrar que existem outras opções, opções estas que muitas vezes são melhores que a compra de um filhotinho para o Natal.

Para facilitar, vamos por tópicos:

1 • Raça:

As raças derivam das funções que os diferentes tipo de cães exerciam no passado, em suas regiões de origem. Por exemplo, na Alemanha, o pastor de ovelhas era o Pastor Alemão, na Belgica, era o Pastor Belga, na Inglaterra o Old English Sheepdog, na Escócia o Border Collie, na Austrália o Australian Shepard e por aí vamos. O mesmo acontecia com os cães que controlavam roedores (terriers), os de caça e até mesmo os de combate. Ou seja, as pessoas escolhiam os cães de acordo com o que queriam fazer com eles, e não por seu visual.

Com o tempo, muitas dessas funções foram desaparecendo e muitos criadores passaram a criar raças somente por seu aspecto físico (o que é um erro, mas isso é outro artigo), mas mesmo assim, os traços de comportamento que foram fixados ao longo de gerações durante a evolução da raça estarão lá. Um terrier será sempre um terrier, um sabujo será sempre um sabujo, e mesmo que não levemos isso em conta na hora de escolher nosso companheiro, teremos que lidar com as conseqüências. E aí acontece o que nós da LordCão vemos muito mais do que gostaríamos; donos frustrados e cães infelizes, por simples incompatibilidade.

Ou seja, se você sonha com “aquela” raça, ou acha aquela outra liiiiiiinda, pesquise antes de decidir, veja se a raça é compatível com seu modo de vida e suas expectativas antes de comprar seu cão. Se for, ótimo, se não for… procure uma que seja. Tentar mudar a natureza de um cão dificilmente funciona.

Mas e se você nunca sonhou com nenhuma raça em especial? E se, como a grande maioria de nós, você está pensando: Função? Que função? Só quero um cachorro para me fazer companhia, ou para brincar com as crianças!

É fato que, hoje, a grande maioria das pessoas tem cães apenas para companhia, no máximo para ser um incentivo para caminhadas ou corridas. Algumas pessoas querem cães para guarda ou para esportes como agility, mas estes são poucos. A grande maioria de nós quer apenas um focinho gelado e um rabo abanando quando chegarmos em casa à noite.

Se você é uma dessas pessoas, você não precisa de uma raça, mas sim de um indivíduo, de um cão que se adéqüe a seu estilo de vida, independente de raça. Esse indivíduo deve ser escolhido com cuidado, mas de forma pessoal, e não genérica.

Para isso, adotar um mestiço ou belo vira-lata pode ser a melhor solução. Vira-latas, ou SRDs (Sem Raça Definida) têm algumas vantagens. Primeiro, são mais saudáveis que os de raça, pois sua variedade genética é maior e por isso não costumam ter doenças de fundo genético como cardiopatias, displasias, epilepsias, alergias, etc. Segundo, cada um é diferente e único, o que, convenhamos, é um charme, você terá um modelo exclusivo! E terceiro, são de graça, existem muitos abrigos bacanas que entregam cães saudáveis, vacinados e até mesmo castrados, o que já é uma grande economia (lembrando que uma doação para o abrigo é sempre de bom tom, afinal eles poderão ajudar outros cães).

Mas existe diferença entre mestiço e vira-latas (srds)? Existe. Comumente se chama de mestiço o cão que resulta do cruzamento de duas raças, ou de um cão de raça com um vira-lata. Já vira-lata ou srd é o cão “sem raça definida”, aquele que pode até ter alguma raça no sangue, mas não é obvia e não se sabe.

A diferença básica é que no mestiço, muitas características físicas e comportamentais das raças envolvidas estão presentes, enquanto que no vira-lata não, nele o que aparece são somente as características pessoais dos pais.

2 • Comprar ou adotar?

Os parágrafos acima já respondem boa parte desta pergunta, mas não toda, pois muitas vezes pode-se adotar um cão de raça. Muitos abrigos e até criadores responsáveis resgatam cães de raça, cuidam, castram e os colocam para adoção.

Ou seja, comprar é a opção se você deseja um filhote de uma determinada raça, seja por aparência ou função. Neste caso, procure um bom criador, que faça todos os testes e controles de saúde e temperamento necessários e compre um legítimo exemplar da raça que escolheu, portador não só das características físicas, mas também do temperamento esperado.

Se a raça não for importante para você, ou sua opção for um cão adulto, adote. Neste caso, pesquise abrigos, visite e escolha com cuidado um indivíduo que seja compatível com sua rotina e estilo de vida. Leve em conta tamanho, grau de atividade e temperamento. Nos bons abrigos, os voluntários e tratadores conhecem o temperamento dos cães e podem ajudar na escolha. Faça muitas perguntas, converse, observe os cães juntos e separadamente. Quanto gostar de algum, dê uma volta com ele, fique um tempo sozinho com ele e veja como reage. Não seja impulsivo, nem tenha pena e leve o primeiro que pular no seu colo, faça uma adoção consciente e responsável. Não dá para salvarmos todos, então que seja o que será mais feliz em sua casa e lhe fará mais feliz também.

3 • Filhote ou adulto?

Essa é minha pergunta preferida. Trabalhando com cães há 15 anos, tendo escolhido, treinado, comprado, vendido e recolocado nem sei quantos cães, fico muito à vontade para responder que geralmente um adulto é muito mais recomendado que um filhote. Já perdi a conta de quantos filhotes dados para avós e tias foram devolvidos ou doados porquê as pobres senhoras viviam mordidas, arranhadas, derrubadas e com a casa suja; quantos outros tiveram o mesmo destino porquê seus donos tinham que trabalhar o dia todo e eles choravam e gritavam quando deixados sozinhos até serem expulsos do prédio, e quantos outros cresceram presos nas cozinhas de seus donos porquê mordiam as crianças e destruíam o apartamento.

Em todos esses casos, a compra do filhote foi feita com a melhor das intenções, mas sem levar em conta que filhotes são filhotes, e se comportarão como filhotes, a adoção (ou compra, mas é mais raro) de cães adultos teria sido a melhor opção.

Cães adultos são mais calmos, não mordem as mãos, não arranham, não pulam e não destroem (existem exceções, é claro, mas são exceções,e voltamos à questão de escolher bem). São mais fáceis de treinar para fazerem suas necessidades no lugar certo e para ficarem sozinhos, e, o mais importante, já tem sua personalidade definida. Quem não conhece um lindo filhote que cresceu e virou um monstro? Pois é, a idéia que um filhote será bonzinho e amigo das crianças só porquê foi criado com elas é um grande engano. Grande parte do temperamento dos cães é herança genética, mas só aparece com o amadurecimento. Muita gente acha que os cães “mudam” depois dos 2 anos, mas não é isso, eles somente deixam de ser filhotes e apresentam seu real temperamento. Ou seja, um adulto que goste de crianças vai sempre gostar, os que gostam de colo vão sempre gostar, os que são mal humorados continuarão sendo. Você já sabe o que tem em mãos, basta obter essas informações de quem estiver cuidando do cão. Neste ponto você está pensando: mas e o apego? Um adulto não se apega da mesma forma. Ledo engano. Cães adultos se apegam tanto quanto filhotes, e se transformam em companheiros sensacionais. É claro que eles precisam de um tempo para conhecer as pessoas e ganhar confiança (assim como o filhote), às vezes têm alguma mania ou medo que deverá ser trabalhada, mas nada que duas semanas de paciência e dedicação não resolvam. Especialmente no caso de cães para idosos, as vantagens de um adulto são inomináveis, é um companheiro pronto, e não uma bolinha de pêlos que era para ser um prazer e vira um grande problema (tá bom, tá bom no caso da sua tia-avó materna deu tudo certo, mas garanto que geralmente não dá, e teria dado com um adulto também).

Mas então ninguém deve adotar/comprar um filhote? Claro que deve! Se você tem tempo, disposição e condição física de educar e dar a atenção que o filhote precisa, vá em frente. Eu adoro filhotes, sua energia, suas artes e acompanhar seu crescimento são experiências deliciosas, mas não para todo mundo, e é importante que as pessoas saibam que existem opções. Nosso objetivo com este artigo é mostrar estas opções e explicar um pouco cada uma delas, para que, qualquer que seja sua escolha, ela seja consciente e traga muitos anos de felicidade para você e para seu novo companheiro!

Vejam em nosso site mais artigos sobre como escolher um filhote, assim como links para abrigos, clubes de raça, entidades cinófilas e muito mais.

Daniela Prado
LordCão Treinamento de Cães

Todos os direitos reservados. Este artigo está registrado na Biblioteca Nacional e tem seus direitos autorais protegidos por lei. É permitida a sua reprodução desde que sejam colocados o nome da autora e a homepage origem.

Brigas, brigas e mais brigas. O que aconteceu com nossas matilhas?

A vida toda ouvimos que cães são animais de matilha, programados geneticamente para viver em grupo, respeitar hierarquia e seguir um líder. Então, porque de uns tempos para cá, nós da LordCão temos recebido tantas mensagens e telefonemas de donos desesperados por causa de brigas entre seus cães? Machos, fêmeas, até filhotes da mesma casa resolveram não viver mais em harmonia, e estão deixando seus donos preocupados e sem ação. O que pode estar acontecendo? O que pode estar levando nossos cães a se odiarem? O objetivo deste LordCão News é discutir algumas destas questões, e propor medidas para tentar trazer a paz de volta a nossos lares.

Bem, se antigamente não víamos tantas brigas, a primeira pergunta é: o que mudou, digamos, nos últimos 15 anos? Muita coisa. O mercado pet é um dos que mais cresce em todo o mundo, e aqui no Brasil houve uma verdadeira explosão. Temos mais produtos, mais serviços, mais facilidades, e obviamente mais pets.

Isso nos leva ao primeiro ponto a ser observado: as pessoas hoje têm mais cães. Não só quem já tinha tem maior número, como quem não tinha passou a ter. Muitos dos motivos que levavam as pessoas a não terem cães não existem mais. Hoje temos rações completas a preços acessíveis; passeadores, treinadores, babás, hotéis e creches para cães; banhos e tosas em casa ou na pet shop com “delivery”; veterinários em casa e clínicas 24 horas. Ou seja, muito mais facilidade para se manter o peludo saudável e feliz mesmo se tendo pouco tempo para ele.

Chegamos à segunda mudança: menos tempo. Acho que ninguém discorda que nossa vida hoje é bem mais corrida do que há 10 anos, e que o tempo que temos para dedicar a nossos peludos muitas vezes é menor. Neste pouco tempo, queremos carinhos, chamegos e brincadeiras com eles. Isso nos leva ao…

Ponto três: menos disciplina e menos exercícios. Quem tem tempo para aulinhas de obediência? Quem tem tempo para longas caminhadas diárias, ou para andar de bicicleta ou para ir a um parque jogar bolinha com o cachorro por horas? O que mais ouço de donos é: ”mas eu trabalho duro o dia todo, quero chegar em casa e somente relaxar com meus cachorros!”

Por fim, pelo menos para quem vive nos grandes centros: nossas casas estão cada vez menores e temos muito mais apartamentos, ou seja, os cães têm menos espaço e ao mesmo tempo estão muito mais próximos de nós do que antigamente. Hoje são nossos bebês que dormem no quarto, e não mais os “vigias” da casa que moram no quintal. São tratados como membros da família, com direito a todos os mimos, e não como ajudantes ou ferramentas de trabalho que só precisam ser mantidos saudáveis.

Resumindo: mais cães, menos tempo, menos espaço, menos disciplina, menos exercícios, mais carinho e mais proximidade dos humanos.

Agora vamos guardar estas informações para o futuro e mudar nossa atenção para: quem são nossos cães.

Cães em seu estado natural (os raros canídeos selvagens ou semi-selvagens) são animais de matilha, mas muito mais por necessidade do que por escolha. Um cão sozinho é fraco, não caça boas presas e fica vulnerável a predadores/agressores. Na natureza cães precisam uns dos outros para sobreviver, eles caçam em grupo e protegem uns aos outros. Quando há uma briga séria, o perdedor se submete ao líder, vai embora ou morre. Ou seja, eles vivem cansados, com pouca comida, precisam se proteger e só têm a companhia uns dos outros.

Agora voltemos aos nossos cães. Apesar da genética ser semelhante aos daí de cima, eles: têm proteção e comida a vontade e de graça, uma cama gostosa onde podem dormir o dia todo, e um dono que lhes dá atenção e carinho sem exigir nada em troca. Nem fazer o trabalho para o qual sua raça foi selecionada ele precisa mais! É só relaxar e aproveitar a vida.

Convenhamos … quem vai querer dividir isso com alguém?! Porquê?!? O mais natural é querer guardar esta vida valiosa só para si, sem dividir com ninguém.

Nós tiramos de nossos cães a necessidade de viver com outros cães, nós mostramos a eles que a vida de “filho canino único” entre humanos pode ser muito boa, muito melhor do viver entre cães, mesmo que o preço seja passar algumas horas sozinho às vezes. Ou seja, eles continuam animais de matilha, mas nós os ensinamos a apreciar a matilha humana…

Só para exemplificar o quanto nossas atitudes e modo de vida mudaram o comportamento dos cães; nossos cães hoje olham nos olhos das pessoas para tentar entender o que queremos, enquanto nos selvagens, olhar nos olhos é visto como desafio e provoca uma briga. Nossos cães viram a barriga para cima cheios de alegria para ganhar carinho porquê é gostoso, enquanto os selvagens só viram a barriga em sinal de submissão, e nessa hora não estão nada alegres. Nossos cães gostam de carinho e até beijos na cabeça, enquanto nos selvagens colocar a boca ou a mão/pata em cima da cabeça do outro é uma grande demonstração de , dominância.

Vejam bem, eu acho tudo isso ótimo, e adoraria que todos os cães do mundo tivessem um bom lar e donos amorosos por toda a vida, mas o que temos que entender é que tudo isso tem impacto na forma de ser dos cães e uma das conseqüências deste impacto é uma atitude de extrema submissão em relação aos humanos aliada a uma extrema dominância em relação a outros cães, afinal, de aliados, os outros cães passaram a competidores.

Ok, já estou vendo um monte de gente pulando: ”Peraí, meu cachorro adora brincar com outros cães!”. Claro, ele está se divertindo, se exercitando, brincando e relembrando como é ser cachorro. Não está dividindo os recursos (comida, espaço e proteção) nem a atenção dos donos. Ele sabe que voltará para casa sozinho com você, então pode relaxar a aproveitar o momento.

Outro leitor pulando: ”Eu tenho 4 cães que se amam, nunca brigam e fazem tudo juntos”. Que bom! Eu também já tive J. Isso nos relembra que cada cão é um cão, e muitos gostam muito de outros cães e vivem felizes (graças a Deus!) com 2, 3 ou mais companheiros na mesma casa. Mas estes não são a maioria, nem o foco deste artigo. Nosso objetivo aqui é entender porquê cada vez mais cães brigam em casa.

É claro que existem detalhes, variáveis e questões de manejo que interferem na harmonia ou não de uma casa com vários cães, mas este assunto já foi abordado pela Claudia em nosso LordCão News n.9 (www.lordcao.com/lcn009.htm), então não vou repetir, mas recomendo a leitura para completar a questão.

A esta altura, você já está pensado: “tá bom, entendi tudo isso, mas então o que fazer para Rex e Fritz pelo menos se tolerarem?”

1. Corpo e mente ativos.

Estudos mostram que os cães selvagens percorrem em média 20km por dia, podendo chegar ao dobro disso em épocas de pouca caça. Fazem várias tentativas e testam diferentes estratégias até finalmente conseguirem comida. Ou seja, exercitam corpo e mente diariamente. Não, não estou pedindo para soltar um coelho do jardim e deixar seus peludos se virarem (que idéia… pobre coelhinho), mas temos que estimulá-los de outras formas. Para quem mora em apartamento ou tem pouco espaço, passeios duas vezes por dia, de meia a uma hora, dependendo do tamanho dos cachorros, em passo acelerado (para eles) são um bom começo. Em casos extremos, pode-se usar uma bicicleta (devagar!), ou até ensiná-los a nos puxar de skate ou patins (os huskies e pits adoram!). O objetivo é cansá-los, desestressá-los e fortalecer o sentimento de matilha, então nada de ficar parando para cheirar o chão e fazer xixi em todos os objetos verticais do caminho. Eles podem fazer uns xixis no início, uns no meio e outros no final, mas só quando você parar e disser que pode (lembre-se que temos que reforçar a sua liderança). Se os cães já brigam, e chegaram ao ponto de não se conseguir levá-los para passear juntos, que saiam várias pessoas, até que se consiga ir aproximando os encrenqueiros.

Quando a situação não é tão grave, (brigas acontecem, mas os cães podem ficar juntos), ou mesmo para evitar que venham a se desentender, pode-se fazer qualquer exercício que faça uma associação positiva entre eles. Ou seja, Rex aprende que nadar e brincar na piscina acontece na companhia de Fritz, correr na praia e jogar bola também, então, Fritz = diversão e Rex passa a gostar mais de Fritz. Para idéias de como exercitar seu cão, sugiro a leitura de nosso LordCão News n.34 (www.lordcao.com/lcn034.htm).

Exercitado o corpo, temos que pensar na mente e para isso temos desde exercícios básicos de obediência, até esportes caninos e brincadeiras como procurar brinquedos e/ou pessoas escondidas, ou tirar petiscos de dentro de bolas feitas para este fim. Existem brinquedos onde se pode botar uma refeição inteira dentro e o cão tem que descobrir como tirá-la de lá. Use a imaginação e se divirta com seus peludos!

2. Manter o mínimo de ordem e obediência em casa, e ter atitude de líder.

Embora muita gente ainda resista à idéia, é fato que cães precisam de disciplina e liderança, e não somente de amor e carinho. Infelizmente eles não se auto-disciplinam nem auto-educam, eles precisam que alguém faça isso para eles, e esse alguém é você. Eles têm que achar que nós, donos, somos o máximo, os poderosos, o “Ó do Bobó”, quase Deus! Controlamos a comida, sabemos exatamente o que pode e o que não pode, decidimos a hora dos passeios e de todas as atividades da matilha e impomos as regras disso tudo, enfim, somos sábios, fortes e seguros e sabemos o que é melhor para todos (se você não acredita nisso, finja!). Na cabecinha deles, respeito = admiração = amor = nada de brigas. Isso não quer dizer que você precisa manter sua casa como um quartel, muito pelo contrário, a disciplina deve ser imposta de forma positiva, alegre e amorosa, mas … sem exceções, com constância e clareza. Todos os habitantes humanos da casa devem decidir e concordar com as regras, e todos devem mostrar aos cães segurança e tranqüilidade quanto a elas. Se os membros da família quebram as regras, mostram aos cães que os humanos são inconstantes e indecisos, o respeito e a admiração são perdidos, abre-se a porta para eles se acharem no direito de disputar a hierarquia, e voltamos ao mundo das brigas. Ah, e um detalhe, o Rex não vai lhe amar mais por quê você quebra as regras quando ninguém está olhando, pelo contrário, ele passará a lhe considerar inconstante e fraco. Lembre-se, para os cães, a base para o amor é o respeito, e quem respeita alguém inconstante e fraco?

3. Castrar machos e fêmeas.
Os hormônios sexuais, como diz o nome, são relativos à reprodução. Reprodução para os cães é necessidade, sobrevivência da espécie, e não prazer. Consequentemente, machos intactos vão brigar para decidir quem cruzará e fêmeas no cio também. Mais uma vez voltamos aos selvagens; lá, o perdedor se submete, vai embora, ou morre. Na nossa casa, separamos a briga (não há vencedor nem perdedor) e prendemos um na cozinha e o outro na varanda (ninguém pode ir embora). Fora isso, na natureza os vencedores efetivamente cruzam, enquanto em nossas casas ganhando a briga ou não eles ficam cheios de hormônios e frustrados, pois ninguém cruza, afinal, que dono quer 8 filhotinhos a cada 6 meses !

Então, não é muito mais confortável para eles serem castrados e não pensarem mais no assunto? Muitos não sabem, mas machos castrados que querem cruzar, cruzam (eu já tive dois), então quando eles não cruzam, não é porquê não conseguem, não há frustração, há somente falta de vontade. O que é melhor, viver frustrado 12 anos para cruzar uma vez ou outra por quê o dono acha bacana, ou não pensar mais no assunto? Falaremos mais sobre castração em um outro post.

Nos cães de raça, a raça também influi, afinal, os impulsos de cada raça foram selecionados por nós por muitas gerações, e ainda estão presentes em nossos cães de companhia. Infelizmente é inviável falar de cada raça, mas é importante que na hora da escolher um cão, e sobretudo mais de um cão, isto seja levado em consideração. É bem mais provável que você consiga ter 6 Beagles ou 6 Pugs que se dêem bem do que 2 Bullteriers ou Jack Russels do mesmo sexo!

Tomadas todas estas medidas, teremos a melhor chance de conseguir harmonia entre nossos cães, e um sentimento de matilha respeitoso e duradouro. Infelizmente às vezes os temperamentos dos cães envolvidos são incompatíveis, e a convivência não será possível. Outras vezes, nós humanos criamos situações tão extremas e irreais, que também não é possível haver harmonia (não dá para ter 10 cães intactos num terreno de 300m2 e querer que sejam amigos!).

Para terminar, temos que lembrar que cães são cães. Não adianta falar, explicar nem argumentar, e nossas regras morais não valem nada para eles (não, ele não acha errado matar o irmãozinho…). Temos que ser donos responsáveis, fazer o que é preciso, e dar a eles condições de viver saudáveis, felizes e em harmonia. Da mesma forma, temos que ter a humildade de reconhecer que certas situações são insolúveis, e que não importa o quanto queremos ter 4 ou 5 cães em casa, se eles forem incompatíveis entre si, não vão se entender e ponto, eles não se importam com o que queremos ou não. Para um cão que vive tenso e querendo brigar o tempo todo, mais vale ser recolocado em uma casa em que seja filho único, onde poderá ter uma vida feliz e relaxada, na companhia de humanos. A separação é dolorosa? Claro, mas a longo prazo, ele será mais feliz e todos viverão em segurança. Manter cães que brigam seriamente na mesma casa, separados permanentemente, é estressante e arriscado. Os cães acabam não tendo a boa vida que teriam se estivessem sozinhos, e se um dia há uma falha humana e um portão é aberto … o preço pode ser muito, muito alto.

Mas felizmente a maioria dos casos é manejável. Geralmente, com a dedicação necessária e as medidas que colocamos acima (e em outros textos de nosso site), é possível ter harmonia em casa com sua pequena matilha. Então, se seus peludos estão se olhando feio e arranjando encrenca por qualquer motivo, mãos à obra, seja um bom dono, um líder forte e harmonize sua matilha!

Daniela Prado
LordCão Treinamento de Cães

Todos os direitos reservados. Este artigo está registrado na Biblioteca Nacional e tem seus direitos autorais protegidos por lei. É permitida a sua reprodução desde que sejam colocados o nome da autora e a homepage origem.

Adotando um focinho carente: como começar uma nova vida

Se você optou por adotar um filhote, provavelmente ele não faz idéia do que aconteceu a sua volta, e mesmo que faça, tem condições de superar tudo rapidamente. Se ele estava com a mãe e era bem pequeno, o que aconteceu não fará grande diferença em seu temperamento. O mesmo vale para os já maiorzinhos, mas que tiveram o mínimo de atenção e suporte durante o resgate. Estes deverão ser criados da mesma forma que um filhote adotado ou comprado em situação normal. O único caso mais complicado é se ele tiver sido separado da mãe e dos irmãos antes dos 50 dias. Aí ele poderá demonstrar algum dos comportamentos típicos de filhotes nesta situação (infelizmente muita gente, e até supostos criadores, separam os filhotes muito cedo, mesmo em um contexto tranquilo). Normalmente estes filhotes são mais ansiosos e mais dependentes, mordem muito as mãos e os pés das pessoas, têm mais dificuldade para aprender o lugar do xixi e a conseguir ficar sozinhos. Esses problemas deverão ser encarados com calma e, se preciso, com ajuda de um bom profissional.

Já no caso dos adultos, eles precisam muito de nossa ajuda, pois são muitos, e menos gente se interessa por eles, mesmo sendo uma melhor opção em muitos casos. Neste caso, devemos lembrar que não sabemos como foi a criação dele, que condições de vida teve, e quais experiências passou, por isso é muito importante dar a ele (e a você) as melhores condições de adaptação. Então, se você resolveu abrir sua vida a um peludo necessitado, tenha algumas coisas em mente:

Dê um tempo para ele

Você sabe que o resgatou e que ele terá uma boa vida daqui para frente, com toda a estrutura e amor, mas ele ainda não sabe disso. Alguns cães ficam bem logo, felizes e relaxados como se tivessem sido seus a vida toda, mas a maioria precisa de um tempo. Em geral ficam inseguros, quietos, distantes, ou ansiosos e agitados e alguns até ficam agressivos. Dê um tempo a ele. Um tempo para conhecer a casa, conhecer as pessoas, conhecer a rotina, os novos cheiros e tudo mais que vem junto com um novo dono. A melhor forma de fazer isso é tratá-lo com naturalidade, mas sem forçar muita intimidade por alguns dias. Dê comida, leve-o para passear e mantenha-o por perto, mas sem tentar fazer carinho ou pegar no colo o tempo todo. Se ele estiver tímido, jogue uns petiscos para ele e depois incentive-o a vir pegar outros na sua mão. Por outro lado, se ele só quiser ficar no colo, incentive sua independência, dê uma caminha para ele incentive-o a usá-la, deixe-o no chão e jogue os petiscos para ele. Se a família tem crianças, explique a elas a situação e que, por mais fofinho que o Rex seja, ele precisa de espaço para se adaptar. Daqui a um tempo, ele estará apto a brincar e correr tanto quanto elas quiserem. Em uma ou duas semanas ele vai perceber que está seguro, que existe uma rotina e vai relaxar.

Seja Constante

Lembre-se que para uma adaptação mais rápida, é importante que você seja constante em suas atitudes. O mesmo vale para as regras da casa. Se ele pode subir no sofá, pode sempre, e não só agora que acabou de chegar ou quando ele está cheiroso. Então o melhor é pensar bem em quais serão as regras daqui para frente desde o primeiro dia. Onde ele vai dormir? Onde vai comer? Pode subir na cama? No sofá? Pode pular nas pessoas? Pode latir na janela? Qual a hora de dormir? Quantos passeios ele fará por dia? Ele ganha comida da mesa? Resolva isso tudo e cumpra o que resolveu. Lembre-se que cada vez que você “não resiste” e faz uma concessão, não está fazendo um agrado para seu cão, e sim uma grande confusão na cabecinha dele. Regras são importantes para eles. Fazem com que se sintam seguros, com uma noção clara do que pode e o que não pode. A pior coisa para um cão é a dúvida.

Esqueça o passado

Cães têm uma enorme capacidade de fazer associações e aprender, usam causa e efeito para determinar seus gostos e aversões e para qualificar o mundo. Sendo assim, eles têm uma enorme capacidade de mudar e de viver no presente.

Mas para que isso aconteça, nós, humanos, temos que dar a eles a chance de mudar. Temos que esquecer o passado e focar no presente. Se cada vez que o Rex late para alguém na rua ou avança numa visita, ao invés de corrigi-lo e ensiná-lo a não fazer isso, eu penso: “coitadinho, ele foi maltratado no passado por isso não gosta de estranhos”, estou negando a ele a possibilidade de mudar, e eternizando um comportamento que o estressa. Já se eu o obrigo a se comportar bem na presença dessas pessoas e a ficar calmo, ele vai perceber que nada de mal acontece. Com algumas repetições desta situação, ele perceberá que estranhos não são mais perigosos, que ele pode relaxar na presença dele, e quem sabe até ganhar umas guloseimas.

Ou seja, a partir do momento em que levar seu novo amigo para casa, esqueça o passado e possíveis tristezas ou traumas. Cães não têm traumas, donos têm. Cães aprendem que uma situação foi ruim, mas podem reaprender e esquecer, basta ensinar. Foque no futuro. O que é preciso para que ele seja feliz daqui para frente? Exercício, socialização, convivência, segurança, carinho. Mostre a ele como deve se comportar em cada situação, mesmo que tenha que obrigá-lo a obedecer. Não dá para argumentar, nem para convencê-lo, tem que obrigar mesmo, de forma calma e firme, sem violência e com paciência. Saiba que é para o bem dele e ele logo perceberá isso também e esquecerá o passado.
Outra coisa importante é não tratá-lo como um “coitadinho” por conta de um passado difícil. Trate-o com amor, respeito e bom senso, mas da mesma forma que trataria um cão bem nascido e bem criado, que nunca teve um problema na vida. Justamente por ter tido um passado instável, ele precisa de segurança, estabilidade e liderança. Ele precisa ter certeza que de agora em diante está seguro, pois alguém cuida dele e mantém a vida sob controle. Não se permita viver com pena dele, protegendo e alimentando seus medos e neuroses. Pense que ele é um cão de sorte, afinal, achou você! Então ajude-o a esquecer o passado e festejar o lindo futuro que tem pela frente.
Invista na relação

Você já sabe que é o novo dono dele, mas ele ainda não, então invista na relação. Programe-se para ter tempo para caminhadas a dois todos os dias, com tempo para conversas e carinhos, quem sabe até uma água de coco. Se possível, procure aulas de obediência em grupo uma vez por semana. É um programa divertido que vai dar a você a chance de observá-lo em meio a outros cães e pessoas e corrigir os comportamentos inadequados que ele possa ter. Se a casa tem crianças, elas podem participar das aulas e aprender a melhor forma de se comunicar com ele. Treine um pouquinho em casa todos os dias e verá que a relação vai se fortalecer num instante.

Seja responsável

Por mais terrível que tenha sido a situação da qual um cão foi resgatado, se você tomou esta decisão, ele agora é sua responsabilidade, e para o resto da vida. Do momento em que você o adotou, tirou dele a chance de ser adotado por outra pessoa, então tem que dar a ele uma boa vida. Check-up veterinário, vermífugos, vacinas, exames, remédios e castração são responsabilidades suas e direitos dele. Pense bem antes de tomar a decisão. Não adote apenas porque entrou na onda de amigos ou campanhas de TV, é uma vida que está em jogo, vida esta que dependerá de você de agora em diante. A pior coisa que pode acontecer para um cão resgatado é um novo abandono ou ficar pulando de casa em casa, então pense bem. Você tem tempo? Espaço? Disposição? Recursos? Continuará tendo tudo isso num futuro próximo? Pense nisso antes de assumir a responsabilidade de dar um lar a um ser que dependerá totalmente de você.

Sejam felizes

Eu acredito que cães são anjos que foram colocados na Terra para tornar nossa existência mais fácil. Se um desses anjos cruzou seu caminho e seu coração disse “esse é meu!”, você é uma pessoa de sorte. A companhia de um cão deve trazer felicidade, deve ser uma solução e não um problema em nossas vidas. Siga as dicas acima e as outras espalhadas por nosso site e sejam felizes para sempre. Mostre a seu anjinho como ele deve se comportar no mundo dos homens para que ele se adapte e possa usufruir da sua companhia e de seus amigos em todos os momentos. Garanto que é tudo que ele mais deseja.

Daniela Prado
LordCão Treinamento de Cães

Todos os direitos reservados. Este artigo está registrado na Biblioteca Nacional e tem seus direitos autorais protegidos por lei. É permitida a sua reprodução desde que sejam colocados o nome da autora e a homepage origem.

Encontrando um bom criador de cães

O que é um bom criador, e como encontrá-lo?

Vou começar pelo mais fácil: como encontrá-lo. Isso já foi um grande problema, mas hoje em dia, com a facilidade de comunicação, internet e revistas especializadas em cães, ficou mais fácil. Se a sua cidade tem um Kennel Clube, comece por aí, entre em contato e peça indicações. Você também pode procurar clubes nacionais ou estaduais da raça que deseja (nem sempre existem) e fazer o mesmo. Você pode ir numa exposição de cães (o Kennel da cidade pode dizer quando vai ter uma) e procurar os criadores. Você pode procurar diretamente pelos sites dos criadores ou em anúncios em revistas. Você pode pedir indicação para veterinários ou para donos de exemplares da raça que deseja. Nós não indicamos a compra de filhotes em pet shops ou feiras.

Uma vez encontrados alguns criadores (sempre contate mais de um), falta descobrir se são bons. Para isso vamos a algumas dicas:

1. Veja se ele tem conhecimento da raça.

Eu ia colocar em primeiro lugar “amor pela raça”, mas seria um erro, já que quando falamos em “criação”, apenas amor não basta. Muitas pessoas amam verdadeiramente a raça que possuem, mas por falta de conhecimento acabam prejudicando o futuro da mesma, fazendo cruzamentos errados ou cruzando exemplares que não deveriam reproduzir.

Um esclarecimento importante é que qualquer pessoa que cruze cães se torna um criador. Isso inclui aquela vizinha que cruza seu casalzinho de salsichas uma vez por ano e diz “eu não sou criadora, só cruzo porque gosto da raça”. Do momento em que nasceram filhotes, ela virou criadora sim. É importante que as pessoas se conscientizem disso, pois colocar vidas no mundo é uma tremenda responsabilidade, e um ato que deve ser encarado com seriedade. Quantas pessoas cheias de boas intenções cruzam labradores hiperativos, ou de cores que não se pode misturar (não é só estética, afeta saúde e temperamento), golden retrievers sem controle de displasia, rottweilers agressivos, cockers malucos, poodles com cataratas, terriers histéricos, dálmatas agitadíssimos e por aí vai, numa lista interminável. Essas pessoas são boas pessoas, geralmente até bons donos, mas péssimos criadores, já que, mesmo sem intenção, colaboram com a degeneração da raça que tanto amam (quem tem mais de 40 anos lembra do que aconteceu com os pequineses…). Então, não basta ter amor, o criador tem que ter conhecimento e responsabilidade.

Pergunte tudo sobre a raça; seu padrão físico e de comportamento, as doenças mais comuns, os defeitos e qualidades, a quem ela se adapta ou não, os cuidados necessários. Um bom criador te mostrará sempre os dois lados, até mesmo enfatizando os defeitos e dificuldades, já que geralmente são estes os responsáveis por devoluções a abandonos. Raça perfeita não existe, todas têm seus prós e contras, e nenhuma serve para todo mundo.

Desconfie de criadores que criam muitas raças, ou que mudam de raça conforme a moda.

2. Veja se ele conhece bem sua linhagem e seus cães.

Peça explicações sobre a linhagem que ele escolheu e sobre seus cães em particular.
Em todas as raças, existem várias linhagens de cães, que geralmente foram desenvolvidas pelos primeiros criadores da raça, e/ou por criadores que tinham algum objetivo específico. Muitas vezes a diferença é física, mas geralmente diz respeito ao temperamento, coisa que influenciará decisivamente a relação do filhote com seu novo dono. Um bom criador sabe as características da linhagem de seus cães, suas aptidões e possibilidades. Um criador que não saiba que linhagem possui (tem uns que nem sabem que isso existe…), nem explique porque a escolheu … esqueça! Você certamente conhece alguém que levou para casa um lindo filhote de labrador tendo em mente um obediente guia de cegos, quando na realidade comprou um caçador de patos cheio de energia!

Nesta hora, o bom criador vai mostar e explicar os pedigrees dos pais da ninhada, dizer porque escolheu este cruzamento e o que espera dos filhotes. É a hora de checar os exames de saúde dos pais da ninhada. Os mais comuns hoje em dia são: radiografia coxo-femural e de cotovelos, exame de patela, exames cardíacos e exames oftálmicos. Mas isso varia de raça para raça, o melhor é pesquisar sobre a raça escolhida antes da visita para saber o que pedir.

Também é importante que ele conheça bem seus próprios cães. Pode parecer estranho para o leigo, mas infelizmente é muito comum criadores terem cães que vivem em canis ou gaiolas, e não convivem com o dono nem com sua família. Nesse caso, como ele poderá saber como é seu temperamento? São muito agitados? São calmos? Algum é medroso? Mordem? Então peça para ver os cães, peça para que sejam soltos com você para que você possa observar seu comportamento e interação, enquanto o criador descreve cada um. Isso vale tanto para raças pequenas como grandes, e mesmo para as raças de guarda. Cães de guarda não devem ser feras assassinas, devem ser cães seguros e sociáveis na presença do dono. Lembre-se que temperamento e saúde são genéticos, então os pais e a linhagem de seu futuro bebê são muito importantes.

3. Sinta se o criador está querendo se livrar logo dos filhotes.

Um bom criador cria por amor à raça, e às suas qualidades. Desta forma, a última coisa que ele/ela quer é que um de seus filhotes vá para uma família aonde não irá se adaptar e ser amado e apreciado como deve. Bons filhotes são minoria em qualquer raça, então, quem cria bem tem sempre quem queira seus “bebês” e por isso, estará mais interessado em ter certeza de que você será um bom dono do que em te convencer a comprar o filhote.

Fora isso, ele também deve ter espaço e disposição para manter os filhotes até pelo menos os 50 dias de idade. Mesmo desmamado, nenhum filhote deve sair da companhia da mãe e dos irmãos antes disso, é muito importante para seu futuro desenvolvimento.

4. Tem que ter pedigree sim.

Muitas vezes a pessoa que quer somente um companheiro pensa: não precisa de pedigree, não quero criar nem fazer exposições. Grande engano. Se você está comprando um filhote de raça, o mínimo que o criador tem que fazer é registrar toda a ninhada. Um pedigree custa hoje (janeiro de 2011) pouco mais de R$30,00, sabia? Pois é, aquela conversa que pedigree é caro é mentira de criador ruim, que vende ninhadas que não poderiam ser registradas, mas não diz isso. Ele mente, diz que é caro e aí a pessoa abre mão, achando que não faz diferença. Outra mentira comum é que o novo dono é que tem que registrar o filhote. É impossível, só o dono da cadela mãe da ninhada pode registrar os filhotes. Mesmo com cópia de todos os documentos, o comprador nunca poderá registrar seu cão, é uma regra internacional, válida em todos os órgãos da cinofilia. Mesmo assim, o pedigree garante apenas que os filhotes são puros, filhos de pais de raça. Só isso. Ele não garante qualidade, nem saúde, por isso são necessários os outros controles, o pedigree é apenas um registro genealógico. Por isso é barato. Então pense bem, você acha mesmo que um criador que não gasta R$30,00 por filhote para registrar, e com isso provar que seu filhote é puro, vai ter feito todos os exames de saúde e seleções de estrutura e temperamento que a raça exige? Ele vai ter gasto em vermífugos e vacinas de qualidade? Ele usa alimentação de qualidade? Será?

Outra situação é a da pessoa que não registra a ninhada porque acha que não é criador (aquela vizinha dos salsichas mencionada no início do texto, lembra?), que pedigree é bobagem, o que importa é o amor pelos bichinhos. Bom, a questão é que esta pessoa não deveria estar cruzando seus cães e vendendo filhotes, pois dificilmente terá feito os controles necessários, voltamos ao problema do item 1. Se tiver feito tudo, menos o registro, tudo bem, mas sinceramente, até hoje eu nunca vi isso acontecer…

Mas se você realmente não faz questão de nada disso, tudo bem, realmente é muita coisa para checar só para ter um cãozinho em casa, mas então não compre um filhote teoricamente de raça, adote um focinho carente, ele te fará tão feliz quando o de raça e não dá esse trabalho todo para escolher. Mas, se é para ser de raça, que tenha tudo direitinho, se não, não faz sentido. Por que comprar um filhote sem nenhuma garantia de origem, saúde, estrutura ou temperamento da raça escolhida? Se é para ser loteria, volto a dizer, melhor adotar.

5. Você poderá contar com o criador no futuro?

Por mais que você estude e pergunte, dúvidas surgirão, e imprevistos também. Um bom criador se mostra disponível para te ajudar e assessorar durante toda a vida de seu filhote. Alimentação, exercícios, treinamento, exposições, acasalamentos, você pode resolver fazer um monte de coisas com seu filhote, e precisará de alguém experiente para lhe ajudar a tomar decisões e escolher o melhor para ele. Os assuntos de saúde devem sempre ser tratados por seu veterinário de confiança, mas um criador experiente poderá te ajudar a enfrentar eventuais problemas com mais segurança. Fora o fato dele conhecer bem a linhagem e a família de seu cão e poder dar ao veterinário informações que de outra forma ele não teria acesso. Se você nunca precisar dele, ótimo, mas ele tem que ser disponível.

6. O preço dos filhotes condiz com tudo isso?

Agora você já tem uma idéia de como funciona uma criação correta. O bom criador só usa cães dentro do padrão, faz exames de saúde, testes de temperamento, não acasala cães com faltas para a raça, registra seus filhotes (a maioria microchipa também), usa boa alimentação, bons remédios e boas vacinas. Estuda a raça, vai a eventos, conversa com as pessoas, enfim, dedica uma parte de sua vida e seu tempo a seus cães. Quanto custarão esses filhotes? Infelizmente não tenho como responder, até porque tudo isso varia de raça para raça e até de estado para estado, mas leve em conta que esse filhote não poderá custar R$300,00 (trezentos reais), como aqueles do anúncio no jornal. Mesmo o criador que não vive da criação (na minha opinião, o ideal), precisa pelo menos repor parte do investimento que faz e dos gastos que tem com seus cães, então deverá cobrar um preço justo por seus filhotes. Leve em conta que seu cão deverá viver uns 12 anos, então o preço de custo dele será o menor dos seus gastos.

Mais uma vez vou lembrar: você não quer nada disso? Achou tudo um exagero? Tudo bem, adote um filhote sem controle, mas não compre. Não ajude os fabricantes de cães a produzirem filhotes que muitas vezes terão problemas sérios de saúde e/ou de temperamento para ganhar dinheiro fácil. Milhões de cães são sacrificados em abrigos todos os anos, e um grande número destes nasceu na casa ou canil de alguém, não nas ruas. A única forma de acabar com a criação e o comércio indiscriminados de cães é através da conscientização dos compradores. Bons criadores são necessários, pois sem eles as raças acabariam, aliás, sem eles as raças nem existiriam. São pessoas dedicadas, apaixonadas e perseverantes, que merecem todo apoio e respeito.

Daniela Prado
LordCão Treinamento de Cães

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Já tenho um cão, e agora?

Bom, a decisão foi tomada e agora temos um cãozinho (ou caozão!) em casa. Quais são as preocupações e atitudes iniciais que se deve ter?

Primeiro cuide da saúde física do seu cachorro:
» O cachorro deve viver num local limpo.
O lugar em que o cachorro dorme e/ou fica deve ser limpo todos os dias, e mais de uma vez se for necessário. Isso é importante para a saúde dele e para seu comportamento. Um cachorro criado na sujeira nunca será limpinho, vai achar normal pisar e deitar no xixi e no cocô. Sua comida, água e caminha devem ficar distantes do “banheiro”. Na hora de limpar, lembre-se que produtos de limpeza podem causar alergias no seu cachorro. Consulte o seu veterinário se você observar irritações na pele dele. O produto para limpeza mais recomendado para evitar este problema é o Lysoform Bruto (utilizado na diluição indicada).
» Mantenha seu cachorro livre de carrapatos e pulgas. Existem produtos a venda em pet shops que são bastante eficientes em manter seu animal livre destes parasitas. Além de serem anti-higiênicos, os carrapatos são transmissores de doenças. Se o seu filhote ficar meio caidinho e/ou perder o apetite, leve-o ao veterinário para um exame de sangue, mesmo que nunca tenha visto um carrapato nele!

» Mantenha seu cachorro com as vacinas em dia. Os veterinários fornecem uma caderneta que mostra as datas de revacinação. Vacine seu filhote somente com um veterinário, só ele pode garantir a origem e conservação adequada das vacinas. Seu veterinário também lhe orientará sobre as datas de dar remédios contra vermes para seu animal.
» Em locais onde há muito mosquito é recomendado se dar ao cachorro um remédio que evita as doenças que eles transmitem. Consulte seu veterinário.

» Dê banho em seu cachorro no máximo 1 vez por semana. O ideal é quinzenalmente, ou apenas quando for necessário. O cachorro precisa manter uma certa oleosidade na pele para que esta fique saudável. Banhos muito freqüentes podem levar a problemas na pele e no pêlo. Use apenas shampoos para cães vendidos em pet shops. Hoje em dia existem vários tipos, de acordo com a pelagem de cada um.
» Escove seu cachorro diariamente se ele tiver pelo longo. Use uma escova de pinos adequada para cães.

» Veja sempre se há algum ferimento no seu cachorro. Trate todos os ferimentos imediatamente para evitar bicheiras.

» Evite deixar qualquer objeto que pode ser engolido ao alcance do seu cachorro. Deixe sempre brinquedos e objetos adequados para o seu cachorro roer e passar o tempo. Um cachorro entediado irá procurar alguma coisa para brincar. É comum ver cães engolirem chupetas, tampas de garrafas, rolhas, e pequenos brinquedos. Também proteja os fios da casa.
Agora a saúde mental:

» Passeie com ele pelo menos duas vezes ao dia. Passeios não servem somente para gastar energia, também fortalecem os laços entre cães e donos, reforçam a hierarquia e distraem a mente dele. Ele precisa ver gente, carros, outros cães, movimento, etc. cachorro que nunca passeia acaba ficando neurótico!

» Aproveite o seu tempo livre e finais de semana para brincar, correr e exercitar bastante o seu animal. Existem vários parques públicos que aceitam a presença de animais.
» Mantenha o cachorro sempre perto da sua família. A interação com humanos é a melhor coisa que podemos fazer pelos nossos peludos. Para aprender e ficar educado, o cachorro precisa estar convivendo com a família. Só assim ele aprende o que é certo e o que é errado. Quando ele fica preso ou isolado, não aprende nada, e além disso, fica ansioso e estressado.
» Mantenha o treinamento do seu cachorro em dia. Um cão treinado entende o que o dono quer dele e sabe se comunicar. Ele é mais calmo e obediente e se torna o companheiro que todos sonhamos!

O que saber antes de comprar/adotar um cachorro?

Muitas pessoas, quanto compram um filhote, estão enxergando apenas uma bolinha de pelos, engraçadinha e divertida, simplesmente adorável! Mas existe muito por trás desta coisinha fofa do que supõe a nossa vã filosofia.

Só para começar, você já pensou em que tipo de raça é a mais adequada ao seu estilo de vida? Já pensou quem é que vai ter que levar o cachorro para passear (pelo menos 3 vezes ao dia) faça sol ou faça chuva? Quem será o responsável pela alimentação e a limpeza dos “presentinhos” que vão aparecer eventualmente (talvez no seu tapete persa)? Um conselho: pode esquecer daquela promessa das crianças de que elas farão tudo sem reclamar.

Antes de você se apaixonar pela idéia de comprar um cãozinho para você ou para suas crianças, leve em consideração alguns pontos importantes para que você, sua família e o cãozinho não se arrependam mais tarde:

Qual a melhor raça para mim e minha família?
Procure se informar com treinadores profissionais e criadores sobre as características das raças que te parecem atraentes. Leve em consideração:

O tamanho do cachorro adulto e o espaço que você tem disponível (um Dog Alemão ou Fila Brasileiro podem se tornar um problema dentro de um quarto e sala);

Temperamento com crianças (Terriers e cachorros miniaturas são conhecidos pela falta de paciência com os movimentos bruscos de crianças pequenas);

Os cuidados necessários com o pelo (se você não quer gastar horas do seu tempo escovando Rex, melhor esquecer dos Collies ou Old English Sheepdogs. Mas não se esqueça que todos os cachorros soltam pelos, bem, talvez com exceção dos Pelados Mexicanos!);

A necessidade de exercícios para manter boa saúde física e mental. Cães originalmente criados para caçar (por exemplo Labradores, Fox Terriers, Pointers, Setters, Weimaraners e Beagles), demandam uma quantidade de exercícios que talvez você não consiga manter. A falta de exercício adequado vai resultar em destruição de papéis, sapatos, sofás, tapetes e de tudo que puder distrair um cachorro entediado;

Se você não pretende treinar o seu cachorro e não está pensando em calçar seus patins e ser arrastado pelo meio da rua, melhor esquecer cachorros que foram desenvolvidos para trabalhos pesados como por exemplo Malamutes do Alaska, Huskies Siberiano e Rottweillers.

Fêmea ou macho?
Esta é uma decisão muito particular, mas que deve ser levada em conta por toda a família. As fêmeas tendem a ser mais calmas e dóceis, menos agressivas e dominantes, além disso, tendem a ter uma massa corpórea menor do que os machos da mesma raça. Por outro lado, existe o cio (período em que a cadela está pronta para acasalar), que acontece, aproximadamente, de seis em seis meses e que pode causar algum problema. Principalmente se você tem estofados e tapetes brancos. Já os machos apresentam maior tendência a “marcar” o território deles com urina (que pode ser o pé da sua mesa de jacarandá, ou talvez a sua geladeira importada), além de “montar” (quando o cachorro fica agarrando pernas, braços, tapetes ou qualquer coisa na qual eles possam se esfregar), que se não for corrigido desde cedo pode se tornar um hábito bastante constrangedor para os donos da casa;

Filhote ou Adulto?
Filhotes são fofos e bonitinhos, mas também são um bocado de trabalho. Se você não tem tempo, ou não esta disposto a passar algumas noites sem dormir com o choro de um filhote, não quer conviver com o período de dentição em que os filhotes naturalmente roem tudo o que for permitido e estiver ao alcance, se você passa muitas horas por dia fora de casa e treinar o seu bichinho a fazer xixi e cocô no lugar certo vai ser um problema, pense na possibilidade de adotar um cachorro crescido e que não teve sorte na vida até agora.

Cachorros adultos podem ser excelentes companhias, mesmo que não tenham sido criados pelo donos definitivos. Muitos deles têm um verdadeiro sentido de gratidão pelos novos “pais” adotivos e são extremamente dóceis e obedientes. Existem algumas entidades, ou voluntários, que recolhem cachorros abandonados e tentam uma recolocação destes animais em lares conscienciosos e responsáveis. Considere uma visita a estes abrigos e converse com os responsáveis. Peça informações específicas sobre o cachorro que lhe interessar. Porque e como ele foi parar no abrigo, se apresenta alguma doença no momento ou se eles sabem de alguma doença no passado. Se o cachorro é tolerante com crianças, estranhos e outros animais. Grupos e entidades sérias nunca irão mentir para você, pois o maior interesse deles não é o de arranjar um lar qualquer para o cão, mas arranjar o lar certo, com os donos certos e o cachorro certo. Na grande maioria dos casos estes cachorros se adaptam muito bem ao novo lar e quando apresentam algum problema de comportamento, são facilmente resolvidos com a orientação de um treinador profissional, muito amor, carinho e paciência.

Se você quer mesmo um filhotinho, com raça definida e pedigree, esteja atento para doenças genéticas. Algumas destas doenças como por exemplo a displasia coxo-femural são mais comuns em determinadas raças do que em outras. Procure comprar seu filhote de um criador profissional. Evite comprar de lugares onde os filhotes ficam isolados em pequenas gaiolas sem contato com outros filhotes, com seres humanos, ou quando não puderem comprovar a procedência destes animais. Evite os que deixam os filhotes em lugares sujos ou onde eles recebem poucos estímulos. Não compre se você não puder receber garantias de que o filhote está livre de doenças, vermes e outros parasitas. Pergunte se o filhote tem as vacinas em dia e se já foi vermifugado. Peça para ver a mãe e o pai de se filhote. Analise o comportamento da mãe em relação aos filhotes e as pessoas, fique atento para sinais de agressividade excessiva (lembre-se no entanto que muitas fêmeas demonstram pouca tolerância a estranhos perto de seus filhotes). Observe se a mãe mantém o “ninho” limpo e arrumado. Filhotes que aprendem com a mãe a serem limpos são muito mais fáceis de treinar a fazer xixi e cocô fora de casa. Observe os filhotes em grupo e individualmente. Prefira os que não são muito dominantes (estão sempre montando nos irmãos e mordendo pés e orelhas) e os muito submissos (estão sempre sendo atacados pelos irmãos ou então estão isolados num canto). Definitivamente esqueça aqueles que tentarem te morder no rosto ou rosnar para você. Escolha com calma, não tenha pressa, afinal você está escolhendo um amigo que vai compartilhar com você a sua casa e sua vida pelos próximos 10 a 15 anos.

Quanto custa?
Outros pontos a serem considerados antes da compra ou adoção de um filhote são os custos. Ponha no papel os gastos com ração, veterinários, vacinas, banho e tosa se você estiver pensando numa destas raças que exigem atenção extra com o pelo, brinquedos, coleiras, shampoos e remédios. Pense também o que você vai fazer nas férias quando todos gostam de viajar mas nem sempre é possível levar o seu amiguinho. Lembre-se quem nem sempre pais, amigos e vizinhos estão disponíveis. Para a nossa sorte existem excelentes hospedagens em quase todas as grandes cidades do Brasil. Procure visitar algumas, antes que você precise deixar o seu cachorro hospedado numa emergência.

É permitido?
No caso de você morar em apartamento ou estar pretendendo se mudar para um, confira antes na convenção do condomínio se existem proibições quanto a posse de animais, restrições a tamanhos ou raças. Avise aos vizinhos do andar, peça a compreensão deles pelas primeiras semanas de adaptação do filhote e não esqueça de apresentar o seu filhotinho quando ele chegar. Quem vai ter coragem de reclamar se já tiver feito amizade com aquela simpática bolinha de pelos que abana o rabo tão alegremente (não se esqueça, com cachorros e vizinhos, é melhor prevenir do que remediar!).

E a segurança?
Torne a sua casa a prova de filhotes. Pense na segurança do seu novo amiguinho. Certifique-se de que ele não vai cair da sacada ou da escada. Tire todos os medicamentos e produtos químicos de armários ou locais em que seu filhote possa fuçar. Lembre-se que vidros a prova de crianças não são a prova de dentes afiados e curiosos. Retire objetos que são muito valiosos, acidentes acontecem!

Cuidado com o “monstro” que você pode criar.
Não permita nada ao seu filhote que você não permitiria a ele quando adulto. É lindo um filhotinho de Pastor Alemão enroladinho no seu travesseiro, mas é uma briga de foice tirar um cachorro de 50 quilos da sua cama numa noite de verão quando ele acha que o seu quarto é o único com ar condicionado forte o bastante. Não deixe as crianças alimentarem Rex na mesa com aquele pedacinho de fígado que ninguém gosta mesmo, se você não quiser ter um cachorro se esganiçando do lado do chefe do seu marido quando você oferecer um jantar em comemoração a promoção tão esperada. É uma gracinha o seu Poodle Toy te “defendendo” do namorado abusado, mas não é nada divertido quando o mesmo cachorrinho der uma dentada na sua pequena sobrinha que só ia te dar um abraço. Pense bem, use o bom senso e sua bola de cristal e preveja as conseqüências destes comportamentos no futuro. Prevenir, prevenir, prevenir. Esta é a palavra chave.

É preciso treinar?
Finalmente, considere levar o seu filhote (o ideal é entre 2 e 6 meses de idade) para aulas de socialização com um treinador profissional. Cachorros que aprendem a se comportar em público, no meio de outros cachorros, pessoas e ambientes diferentes são muito mais calmos, controlados e fáceis de se conviver.

Obs.: A socialização de filhotes deve ser feita em ambientes controlados e seguros, por um treinador profissional, onde só filhotes participem e cujo foco principal é dono, familiares e filhotes se conhecerem melhor e dividirem novas experiências. Treinamento formal onde punições estão envolvidas como correção devem ser evitadas até que o cachorro complete pelo menos 6 meses.

Ter um filhote, e mais tarde um cachorro adulto e idoso, é muito trabalho e grande responsabilidade, mas também é uma das experiências mais gratificantes que podemos ter.

Você está preparado para ter um cachorro?

Quando nós da Lord Cão resolvemos trabalhar com treinamento de cães, resolvemos também que iríamos trabalhar com os donos destes animais. A nossa responsabilidade maior seria ajudar aos donos a compreender o comportamento e aprender técnicas de treinamento para que eles, os donos, pudessem descobrir ainda mais os prazeres de se conviver com um cão bem educado.

Neste processo todo também passamos a desempenhar um papel importante de aconselhamento dos donos, e, muitas vezes, de agente de mudança no comportamento de toda a família. Na grande maioria das vezes isso tem sido um prazer e temos obtido bastante sucesso. Mas, como tudo sempre tem um “mas”, nem sempre nós conseguimos prevenir “catástrofes” e nem sempre nós conseguimos fazer com que os donos pensem antes de ter um cachorrinho, ou que os que já tem o cachorrinho mudem a sua forma de encarar este relacionamento.

A grande pergunta é então:
Você está pronto para ter um cachorro?
Parece ser uma pergunta simples e de fácil resposta, mas temos visto na prática que não é. Para vocês terem uma idéia, estas são as causas mais comuns de reclamações que ouvimos de pessoas que querem dar os seus animais.

O cachorro foi comprado pro meu filho que não cuida dele. Eu nunca quis ter cachorro em casa/apartamento.
É uma grande ilusão esperar que uma criança, ou mesmo um adolescente vá tomar conta de um animal, com todas as responsabilidades que estão envolvidas nesta relação. A maioria dos cachorros é uma ótima companhia para crianças e jovens, mas nem tudo é festa. Cachorros precisam ser alimentados, escovados, educados, banhados, exercitados, e amados com regularidade. Não dá para deixar o cachorro sem comida e sem passear porque apareceu um lugar legal para passar o fim de semana. Os pais devem estar conscientes que quando eles permitem que o filho tenha um animal, eles estão compactuando com esta adoção, e que, desde que o mundo é mundo, os cachorros sobram pros pais.

Se você não quer tomar conta do “neto” peludo diga não e bata pé. Seja firme. Você não precisa ter um animal, e todo o trabalho que vem junto, se você não quiser. Só não vale é deixar e descontar no bicho depois.

O cachorro é um amor, super bonzinho, adoro ele. O único problema é que
ele solta pêlos e eu detesto pêlos na casa.
É verdade. Cachorros soltam pêlos. Algumas raças mais do que outras, mas praticamente todos soltam pêlos. Cachorros pequenos não soltam, necessariamente, menos pêlos do que cachorros grandes (mesmo que os grandalhões tenham uma “área” bem maior) e, normalmente, cachorros de pêlo curto soltam muito mais pêlo do que os de pêlo longo. O pêlo curto também é muito mais difícil de limpar do que o pêlo longo.

Algumas pessoas têm alergia a pêlos, meu caso, e embora eu nunca tenha deixado de ter bichos por causa da alergia, o melhor é levar todos os membros da família até o canil da raça que se pretende adquirir e ver quem é mais sensível e, se mesmo assim, está tudo bem.

As raças que possuem o subpêlo (um pelinho mais curto, denso e fofinho junto ao corpo e por baixo do pêlo longo), são os que soltam mais pêlos na primavera e no verão, e que precisam ser escovados para se livrar deste pêlo.

Todas as vezes que eu ouço uma pessoa dizendo que vai dar o cachorro porque ele solta pêlos, duas imagens me vêem a cabeça: A primeira é de uma pessoa devolvendo uma blusa porque a lã pinica. A outra é de uma pessoa “devolvendo” o marido porque ele também solta pêlos e está ficando careca.

Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Mas seria bom que as pessoas se lembrassem que cães tem sentimentos, que se apegam e confiam em seus donos. Eles nunca poderiam imaginar que seriam “devolvidos” simplesmente porque eles soltam pêlos, e que todo amor que eles nos proporcionam não seria levado em consideração.

Na grande maioria dos casos a perda de pêlos ocorre intensamente nos meses da primavera e do outono (os cães estão “trocando de roupa”) e uma boa escovada no fim de tarde vai ajudar muito na relação entre o dono e o peludo.
O cachorro chora o dia todo porque está sozinho.
O cachorro late e chora a noite toda porque fica sozinho.
Ninguém gosta de ficar sozinho o dia todo. Nem um cachorro. Também não acho que qualquer pessoa iria encarar como sendo agradável a experiência de dormir sozinho no quintal ou trancado na cozinha. Posso entender e respeitar a decisão de uma pessoa que opta por ter um cão que vai ficar o dia todo sozinho, ou que prefere que o cachorro não fique dentro de casa, mas estas pessoas deveriam estar atentas que este não é um processo fácil para um cachorro. Especialmente se ele for um filhote. Cães são animais sociais, criados geneticamente para viver em grupos e se proteger mutuamente durante a noite.

Para tentar minimizar o problema é preciso que o dono reserve algum tempo do seu dia para se dedicar plenamente ao cão. Brincadeiras, carinhos e cuidados só pro peludo irão fazer com que ele sinta que também é parte da família e que também é aceito por esta família. Caso contrário ele irá se sentir como um cão proscrito. Aquele que é obrigado a viver à margem da matilha, sem poder chegar perto e compartilhar do aconchego, calor e segurança do grupo. Também nestes casos, em que os donos passam muitas horas do dia fora de casa, ou que o cachorro irá viver do lado de fora, é mais aconselhável escolher uma raça que seja naturalmente mais independente do que outras. Só não vale depois ficar reclamando que o cachorro não liga muito pro dono e prefere o caseiro.
Minha casa está com cheiro de cachorro.
A menos que o cachorro esteja doente, é muito provável que a casa esteja cheirando a morrinha por descuidos do próprio dono e não por culpa do cachorro. As grandes causas do mau cheiro do cão, e por conseqüência da casa, são a falta de cuidados essenciais na higiene do animal. Cães com orelhas grandes e caídas tendem a ficar com a ponta das mesmas cheia de comida. É preciso verificar depois de cada refeição se as orelhas precisam de uma limpeza. O mercado já oferece um tipo de comedouro especial para cães orelhudos, muito mais estreitos que os comuns, o que evita que as orelhas participem do jantar.

Também é comum que estes cães apresentem problemas de infecções ou fungos, já que as orelhas ficam muito abafadas e úmidas. Uma limpeza semanal e uma visita ao veterinário no primeiro sinal de excesso de cera, ou mau cheiro, vão manter o seu cachorrinho sem problemas e cheirinhos desagradáveis. Um outro ponto pouco observado pelos donos em geral são os dentes.

Os cães comem e não escovam os dentes. Os dentes ficam cheios de tártaros e as gengivas inflamadas. O cachorro fica com um bafo de dragão. O cachorro lambe o pêlo. O cachorro todo fica com cheiro de dragão. O cachorro se esfrega nos móveis. E a casa do dono fica cheirando a jaula de onça. E olha que o mau cheiro é o menor dos problemas que o tártaro pode causar pro cachorrinho. Infecções sérias, que podem comprometer toda a saúde do cão, podem ter início numa boca mal tratada.

Mesmo que o seu cachorro tenha a boca e os dentes limpinhos, o pêlo também precisa de alguns cuidados. Escovar para retirar o pêlo morto, e secar muito bem o pêlo para não dar fungos e nem a famosa “inhaca” de cachorro, ajudam a manter o ar mais fresquinho.

Finalmente: O jornal. Cães que usam jornal para fazer xixi e cocô precisam ter o jornal sempre limpinho. Até os cães agradecem.

Agora, só mais uma perguntinha: Você não pensaria em por sua sogra pro lado de fora só porque ela usa um perfume muito forte, né? Bem, neste caso, talvez.
O cachorro cavuca o jardim, o cachorro rói tudo, o cachorro não para quieto, o cachorro morde.
Quantos anos tem o cachorro? Três meses!

Gente, este cachorro é só um bebê, e vai ser um bebezinho pelos próximos 5 meses. Tá bem que ele pode e precisa ser educado, mas vamos com calma. Ninguém cogitaria dar uma criança porque ela brinca e põe coisas na boca o tempo todo. Um filhote adora aprender coisas novas, e a grande maioria aceita bem a disciplina de um NÃO dito de forma bem firme. Não desista do seu filhote só porque ele é uma peste. Enquanto ele amadurece e cria “juízo” uma escolinha de obediência básica irá fazer milagres no relacionamento de vocês. Os dois vão se descobrir de uma maneira única. Os impulsos destruidores vão ser direcionados para exercícios e tarefas mais construtivas.

O cachorro também aprende a se comunicar com o dono e passa a admirá-lo ainda mais. Cachorros adultos, que continuam sendo pestes depois dos 2 anos, também se beneficiam imensamente de um cursinho de obediência.

Acredite-me, um dia a gente acaba até sentindo falta destas maluquices todas de filhote.
Eu sei que eu não tenho tempo, eu sei que esta raça é difícil, mas ele era tão bonitinho.
Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiipp. Resposta errada.

Resista, insista. Vá pra casa, pense e ligue depois. Melhor ainda, ligue semana que vem. Se você tem dúvidas se quer mesmo um cachorrinho não compre até ter certeza (ou o mais próximo disso possível). Um filhotinho é lindo, mas é um monte de trabalho junto.

Quem vai ensinar ele a fazer xixi e cocô no jornal? Quem vai levá-lo para passear 3 vezes por dia? Quem vai limpar as caquinhas eventuais? Quem vai educá-lo para não roer o sapato caro? Quem vai bancar as despesas de vacina, veterinário e ração? Quem vai aguentar quando ele estiver chorando porque quer dormir na cama? Quem vai ficar em casa no feriado se não tiver mais vaga na hospedagem? A resposta para todas estas perguntas deveria ser dada por todos da família, mas nem sempre é assim. Então volte até a afirmação “O cachorro foi comprado para o meu filho” e pense tudo outra vez.
Qual o melhor cachorro para apartamento, que solte pouco pelo e
que fique sozinho o dia todo?
O de pelúcia. E que não use pilhas!

Não existe cachorro perfeito. Não existe cachorro mudo. Não existe cachorro sem personalidade. Não existe filhote que vá passar o dia inteiro sozinho e ainda assim vai aprender onde fica o jornal, onde ele pode ou não pode dormir, o que ele pode ou não pode roer. Principalmente: Não existe filhote emocionalmente ajustado e feliz que passe o dia inteiro trancado na área ou no banheiro de empregada, sem interagir com pessoas.

Se você trabalha fora o dia inteiro e quer ter um cachorro procure seguir algumas dicas:
» Só pegue o filhote quando você for tirar férias. Assim você vai ter, pelo menos, 30 dias pra ensina-lo o básico do básico e para estimular o seu filhote, socializando-o e estabelecendo um padrão de confiança com os seres humanos.

» Arme um esquema com a sua empregada ou diarista. Talvez ela possa vir um dia a mais na semana e também fazer companhia para o novo membro da família. Converse bastante com ela e certifique-se de que ela gosta de cães e que não se importa de brincar, passear e limpar o jornal dele.
O cachorro não tem educação e eu não quero gastar dinheiro com treinamento.
É bastante razoável que um cachorro não venha com manual de instruções e que também não saiba de cór as regras de convivência com os humanos, mas não se desespere. Tem muita coisa que se pode fazer para educar um filhote sem precisar gastar dinheiro. Sempre dá para pedir para um amigo entrar na Internet e visitar várias homepages sobre comportamento canino – a Lord Cão tem uma homepage, lembra?. Também sempre dá para comprar uma ou outra revista sobre animais que vem com um artigo importante. Mas acima de tudo, use o bom senso: toda a filosofia de se educar um cachorrinho está baseada em amor, paciência e persistência, e isso não custa nada.
Eu quero viajar, passar o fim de semana fora, saracotear, mas cachorro prende muito. Treiná-lo 20 minutos por dia?
Impossível, o cachorro vai embora.
É verdade, cachorro prende muito. Cachorro precisa no mínimo de 20 minutos de atenção todos os dias para se manter obediente e educado (para ser feliz ele vai precisar um pouquinho mais do que isso). Cachorro vive, em média, de 10 a 15 anos.

Toda vez que eu encontro alguém que está determinado a pensar desta maneira, que definitivamente acha que não vale a pena dedicar nenhum minuto do seu precioso tempo para o cachorro, que isso é problema do caseiro, eu recomendo que eles procurem o mais rápido possível uma nova família para o peludão. O pobre cão merece coisa melhor.

Na verdade todos nós sonhamos com o cachorro perfeito. Lassie e Rin-Tin-Tin só existem, lindos e perfeitos, no cinema e nos filmes de “sessão da tarde”. Por trás de um cachorro obediente e inteligente existem muitas horas de dedicação ao animal e ao seu treinamento. Mesmo que você não esteja querendo um cão capaz de proezas dignas de fazer inveja ao Flipper, é preciso entender que estamos lidando com um ser vivo que tem sentimentos, expectativas e que pensa (disso eu não tenho a menor dúvida). Um cão também sofre de estresse, ansiedade, melancolia e depressão. Cães também são capazes de amar incondicionalmente, de nos dar alegrias, de nos fazer rir e de nos consolar. Como todo relacionamento é preciso seguir regras básicas para se ter o melhor de um grande companheiro. É preciso ser generoso, ser dedicado, ter respeito e se fazer respeitar.

Ninguém precisa ter um cachorro, mas seria muito bom se todos os que os têm tivessem pensado muito bem antes comprar um, e que tivessem abraçado de coração o compromisso de cuidar dele com muito amor e carinho.

Eu também queria ter um filho como Wolfgang Amadeus Mozart.